Reforma Psiquiátrica: uma turnê pela França com a Psiquiatria de Setor

Bem-vindos ao segundo post da semana. Como explicado anteriormente esta semana contaremos com três posts que abordarão três movimentos importantes para a Reforma Psiquiátrica: a Psicoterapia Institucional e as Psiquiatria de Setor, na França, e a Psiquiatria Preventiva, nos Estados Unidos.

Lucien Bonnafé

A Psiquiatria de Setor é um movimento que teve início antes da Psicoterapia Institucional e ganhou destaque no fim dos anos de 1950 e terminou de ser  incorporada em 1960. O movimento foi inspirado nas ideias de Lucien Bonnafé e de um grupo de psiquiatras que após a Segunda Guerra Mundial visitaram os manicômios franceses e solicitaram uma transformação.

A Psiquiatria de Setor tinha como objetivo levar a psiquiatria a população, isto é, o paciente seria tratado em seu próprio meio social, evitando, desse modo,  a segregação e o isolamento. Os territórios foram separados em setores, não ultrapassando 70 mil habitantes, cada um deles possuía uma equipe multiprofissional (i.e., psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistente social, etc.) que eram responsáveis pelo tratamento, a prevenção e a “pós-cura” das doenças mentais.

A internação, na Psiquiatria de Setor, restringia-se a apenas uma etapa transitória do tratamento, sendo o momento principal destinado a própria comunidade. Os hospitais foram separados em alas ou enfermarias e em cada ala atendia a um determinado setor. Desse modo, instalaram-se Centros de Saúde Mental (CSM), de acordo com a distribuição populacional, onde os indivíduos após receberem alta médica seriam encaminhados. O paciente era internado e redirecionado a um CSM da mesma região, sendo, possível assim, que este fosse acompanhado pela mesma equipe multiprofissional. A equipe poderia acompanhar o tratamento tanto dentro do hospital, quanto na residência do paciente.

Nota-se, portanto que a prática da Psiquiatria de Setor apesar de não alcançar os resultados desejados foi um movimento que teve algumas características importantes e revolucionárias, como: a regionalização dos atendimentos e levou o tratamento terapêutico para o meio social do indivíduo, além de possibilitar o trabalho de uma equipe multiprofissional.

Referência:

Amarante, P. (1998). Loucos Pela Vida: A Trajetória de Reforma Psiquiátrica no Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Fiocruz.

Amarante, P. (2013). Saúde Mental e Atenção Psicossocial. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.